Marcos Queiroz

Intelectuais brasileiros acusados de silêncio: um contraponto entre 2005 e 2025
O papel do pensamento crítico não deveria depender do governante de plantão

Em 2005, no primeiro governo Lula, o país foi abalado pelo escândalo do mensalão. A denúncia, feita por Roberto Jefferson, revelou um esquema de compra de apoio parlamentar que atingiu o núcleo do poder: José Dirceu, Delúbio Soares, Marcos Valério e outros nomes históricos do PT foram investigados.
Enquanto a imprensa e o Congresso mergulhavam nas apurações, um incômodo crescia: o silêncio de parte da intelectualidade brasileira. Artistas, escritores, acadêmicos e líderes de opinião, muitos deles com histórico de resistência à ditadura e de críticas contundentes a governos anteriores, mostravam-se discretos ou justificadores diante das graves acusações. Figuras como Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Leonardo Boff e Marilena Chaui eram apontadas por críticos como símbolos dessa omissão. Ferreira Gullar e Arnaldo Jabor denunciaram publicamente essa quietude, chamando-a de pacto implícito para proteger um projeto político.
Passadas duas décadas, em 2025, Lula está novamente na Presidência. O Brasil vive outro momento de tensão: crises econômicas, desconfiança nas instituições, denúncias de mau uso de recursos públicos e disputas abertas entre os poderes. Ainda assim, o silêncio seletivo ressurge. Intelectuais, artistas e formadores de opinião, agora em um ambiente dominado por redes sociais e comunicação instantânea, evitam questionar abertamente temas que poderiam desgastar o governo.
O paralelo é inevitável: em 2005, o silêncio foi interpretado como cumplicidade ideológica; em 2025, como cálculo estratégico para não abrir espaço a adversários políticos. O cenário muda, os pretextos variam, mas o dilema permanece: o que cala o intelectual brasileiro? Convicção? Prudência? Ou conveniência?
O papel do pensamento crítico não deveria depender do governante de plantão. Seja no mensalão de 2005 ou nas crises de 2025, o silêncio — quando seletivo — fala mais alto do que qualquer discurso.
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