Luciano Aguiar

FUXIQUEIROS
De ouvi dizer

Padre Alencazinho de Deus voraz carcara de buchada adorava chuchar a cabeça do bode ao ponto de escorrer pelos cantos da boca uma baba roxa. Aos domingos movia-se às pressas da matriz; não gostava de chegar atrasado nas festas de batizado que eram em série, como as montadoras.
A charrete deslocava-se aos sopapos pelas estradas íngremes de corredores entre cercas; quando o Reverendo avistou a uma légua de distância uma nuvem de poeira, que pela latitude e longitude bíblica, indicava o terreiro da fazenda de Mané Codorna.
Ao esbarra na porteira o sacerdote tentou fugir do desafio do Diabo ao visualizar a festa do batizado num treiler brutal; um duelo de punhais de camisas amaradas pelas pontas, entre Mané Codorna e seu compadre Tonho Touro.
O sangue esguichando sem trégua, os dois unidos pelos punhais tombaram abraçados pela morte. Padre Alencazinho agarrado no crucifixo e laçado pelo diabo correndo em volta de si mesmo feito um toro alucinado frente ao Chuncho; vociferava em línguas estranhas: Lúcifer, Lúcifer....
No velório mais que duplo, Padre Alencazinho abriu as portas do confessionário e os piedosos reversaram-se em campos opostos do buchicho. Os agregados de Mané Codorna alegavam que o padrinho tentou “estrupar” na sacristia a recém-batizada introduzindo o cabo do cachimbo entre as coxinhas do bebê, e tragava em gargalhadas o bafo do diabo. Os partidários de Touro desdiziam afirmando que Codorna fragor o compadre na cozinha da fazenda, feito um peixe cascudo agarrado pelos beiços nas mamas de sua patroa, que miava como uma gata sedenta.
O duplo enterro da tragédia foi no cemitério do engenho de cima. No sétimo dia intercalado entre as missas, Pe. Alencazinho de Deus delineou o sermão pela absolvição sumária dos compadres dizimistas, alicerçando-se no imaginário coletivo, fez a negação da rixa diante do altíssimo, alegando que não foi cachimbo nem peixe cascudo o motivo da carnificina, mas a falta de escrúpulo dos fuxiqueiros.
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