Tairone Feitosa

MAIS LIVROS, MENOS METRALHADORAS
A ideia de que mais armas significam mais segurança é, no mínimo, ingênua

A decisão de armar a Guarda Municipal de Delmiro Gouveia deveria ter sido mais debatida. Muitos defendem a medida como uma solução para a insegurança. Já outros – como eu –, veem nela um equívoco grave e uma perigosa inversão de prioridades. Armar guardas municipais não resolve os problemas estruturais que alimentam a violência; pelo contrário, pode agravá-los. Em vez de investir em armas, deveríamos estar discutindo como ampliar o acesso à Educação, à Cultura e ao Bem-Estar Social. Afinal, uma cidade segura não é aquela armada até os dentes, mas sim a que proporciona oportunidades reais para todos os seus cidadãos.
A ideia de que mais armas significam mais segurança é, no mínimo, ingênua. A experiência de outras cidades e países mostra que o aumento do armamento não reduz a criminalidade; em muitos casos, só intensifica os conflitos e a sensação de medo. A Guarda Municipal, em sua origem, foi concebida para proteger bens, serviços e instalações públicas, não para atuar como uma força de segurança armada. Transformá-la em uma espécie de polícia paralela é um risco desnecessário, que pode levar a abusos de autoridade e ao agravamento das tensões sociais.
Além disso, há um problema de prioridades. Enquanto discutimos a compra de armas e equipamentos de segurança, nossas escolas públicas continuam carentes de recursos básicos. Faltam escolas, falta infraestrutura adequada, falta mais investimentos para valorizar nossos Professores e Professoras, falta otimizar a formação continuada para esses e essas profissionais. Como podemos pensar em armar guardas municipais quando nossas crianças não têm acesso suficiente a livros ou atividades culturais? A verdade é que a violência não se combate com repressão, mas com políticas públicas que ataquem suas causas profundas: a desigualdade, a falta de oportunidades e o abandono social.
Investir em Educação e Cultura não é apenas uma alternativa mais eficaz; é também uma escolha mais humana. Escolas de qualidade e programas culturais consistentes têm o poder de transformar vidas. Eles ampliam horizontes, estimulam o pensamento crítico e criam pontes entre diferentes realidades sociais. Em vez de gastar recursos com armas, poderíamos construir mais bibliotecas, promover oficinas de arte, fortalecer projetos esportivos e garantir que todas as crianças e jovens desta cidade tenham acesso a uma formação integral. Essas são as verdadeiras ferramentas de combate à violência.
É preciso entender que a segurança pública não se resume à presença de policiamento ostensivo armado. Uma cidade segura é aquela onde as pessoas têm acesso a direitos básicos, onde não há abismos sociais, onde todos se sentem parte de um projeto comum. O apartheid social em que ainda vivemos só poderá ser superado quando nossos governantes investirem em políticas que promovam a inclusão, a sensibilidade e o bem-estar coletivo.
Portanto, antes de pensarmos em armar a Guarda Municipal, penso que devemos nos perguntar que tipo de futuro sonhamos construir. Um futuro marcado pelo medo e pela repressão? Ou um outro futuro, aquele que aposta na Educação, na Cultura e na dignidade humana?
Escolho a segunda opção.
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