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Delmiro Gouveia,19/04/2024

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O desespero dos haitianos sem perspectivas para fim da violência

A violência tomou conta das ruas de Porto Príncipe

Fonte: BBC News
O desespero dos haitianos sem perspectivas para fim da violência Imagem: Reprodução

"Porto Príncipe está em pânico", escreveu um amigo em uma mensagem de texto enviada da capital haitiana, Porto Príncipe.

Os moradores de Petionville, uma área mais rica da cidade, estão em choque depois do dia mais violento até agora na crescente crise de segurança do país.

Mais de uma dúzia de corpos baleados foram visto nas ruas – as vítimas do mais recente ataque de gangues.

Além da onda de assassinatos, a casa de um juiz também foi atacada, no que foi visto como uma mensagem clara para as elites do país que disputam o poder.

Tudo isso ocorreu naquela que é supostamente a parte segura da cidade.

A diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell, chamou a situação no Haiti de "horrível" e comparou a criminalidade ao filme pós-apocalíptico Mad Max.

A onda mais recente de violência em Porto Príncipe é certamente um lembrete — se é que um lembrete seria necessário — de que o Haiti segue mais próximo da anarquia do que da estabilidade.

Nesse cenário, a ONU também estimou que, devido ao fechamento de tantos hospitais na capital, cerca de 3 mil mulheres grávidas corriam o risco de ter de dar à luz sem cuidados médicos.

Visitamos a maternidade do hospital público do Cabo Haitiano. Os primeiros choros do bebê Woodley, de apenas um dia de vida, tinham motivações iguais aos de bebês recém-nascidos em qualquer lugar: por comida e por conforto.

No entanto, como acontece com a maioria das crianças que nascem lá, ela crescerá e descobrirá que esses itens essenciais estão longe de ser garantidos no Haiti.

Deitada em uma cama próxima, Markinson Joseph estava se recuperando do parto de um menino, há dois dias. Por meio de um intérprete, ela me disse que mudaria com seu bebê do país se tivesse oportunidade.

"Mas eu e meu marido não temos dinheiro para fugir", disse ela.

Gangues controlam estradas

A obstetra do hospital, Mardoche Clervil, mostrou à reportagem as enfermarias escuras e vazias e disse que o controle das gangues nas estradas que dão acesso à Porto Príncipe estava dificultando o fornecimento de combustível suficiente para manter as luzes acesas, ou os ventiladores de teto em funcionamento.

Mais importante ainda, a situação também afetou o fornecimento de medicamentos e o equipamento médico necessário.

Ela disse que as mulheres grávidas viajaram de Porto Príncipe para dar à luz na relativa segurança do Cabo Haitiano.

"Como você pode ver, temos leitos e pessoal suficiente", disse, apontando para a equipe de enfermeiras e estagiários atrás dela. "Mas muitas vezes os pacientes simplesmente não conseguem chegar até nós, seja por causa dos seus problemas socioeconômicos ou por causa da violência."

Para algumas pacientes, as consequências foram terríveis.

Louisemanie estava grávida de oito meses e meio quando deu entrada no hospital. A essa altura, ela tinha pressão arterial alta e perdeu o bebê.

É possível tratar pré-eclâmpsia se ela tiver sido devidamente monitorada ou se o bebê tiver nascido precocemente. Louisemanie estava perfeitamente consciente de que sua perda era evitável.

"Eles me medicaram desde o início de janeiro, mas fui transferida entre três hospitais diferentes", disse ela, o que significa que sua gravidez, com complicações, foi deixada ao acaso.

Em todo o país, as necessidades humanitárias são agora críticas e a resposta da ajuda até o momento tem sido dolorosamente lenta.

Itens essenciais como comida, água e abrigo seguro são cada vez mais difíceis de encontrar para milhões de pessoas.

Em Porto Príncipe, Farah Oxima e os seus nove filhos foram forçados a abandonar a casa onde viviam, num bairro violento controlado por gangues, e ir para outra parte da cidade. Eles são apenas algumas das mais de 360 ​​mil pessoas deslocadas internamente no conflito.

Enquanto enchia galões de plástico com água de um cano na rua, a mulher de 39 anos disse que estava com dificuldade para ter acesso à comida e à água para seus filhos pequenos.

"Não sei o que fazer, estou vendo o país entrar em colapso", disse.

Para ela, a ideia de que um conselho de transição possa impor alguma forma de ordem ou segurança no curto prazo parece completamente impossível.

"Só Deus pode mudar este lugar porque de onde estou sentada não consigo ver de onde virá qualquer outra mudança."




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