Pelo menos 10 pessoas morreram em um grande incêndio que atingiu um prédio de apartamentos em um bairro nobre da terceira maior cidade da Espanha, Valência, disseram autoridades nesta sexta-feira (23).

O incêndio, alimentado por ventos fortes, tomou conta do quarteirão em meia hora na noite de quinta-feira (22), disseram testemunhas.

Bombeiros com máscaras e tanques de oxigênio percorreram o prédio carbonizado na sexta-feira em busca de corpos ou sobreviventes. A prefeita de Valência, Maria José Catala, disse no final do dia que não havia mais pessoas desaparecidas.

“Numa primeira inspeção visual, foram encontrados 10 corpos no edifício”, disse Pilar Bernabe, representante do governo central para a região de Valência, aos jornalistas.

Dois bombeiros sofreram ferimentos graves e foram hospitalizados.

Os valencianos se reuniram para doar roupas, remédios e brinquedos aos moradores sobreviventes que perderam todos os seus pertences no incêndio e agora estão temporariamente alojados em um hotel próximo.

A prefeita de Valência disse que 105 pessoas foram realojadas e uma autoridade regional disse que receberiam dinheiro para despesas diárias e aluguel.

Visitando o local na sexta-feira, o primeiro-ministro Pedro Sanchez disse que os moradores “perderam tudo em questão de minutos neste terrível incêndio”.

Os serviços de emergência disseram que o incêndio começou no quarto andar de uma das torres, mas não deu a causa. Um magistrado local abriu uma investigação sobre o incêndio.

Esther Puchades, representante da agência de inspeção de seguros APCAS, disse à RTVE que a falta de firewalls e o uso do material plástico poliuretano na fachada teriam contribuído para a rápida propagação do incêndio, um comentário que evoca memórias do incêndio mortal na Torre Grenfell em Londres em 2017.

Um vídeo promocional de 2007 da construtora do edifício destacou o “material inovador” utilizado no revestimento exterior do prédio, que passou por “rigorosos controles de qualidade”.

A associação da indústria de poliuretano afirmou em comunicado que nenhum poliuretano foi utilizado no revestimento do edifício.

A propagação do incêndio de 2017 no bloco Grenfell Tower, no oeste de Londres, que matou 71 pessoas após uma falha elétrica, foi atribuída ao uso de revestimento externo altamente inflamável.

Especialistas em odontologia dirigiram-se a Valência vindos de outras partes da Espanha para ajudar a identificar corpos carbonizados, enquanto a polícia coletou amostras de DNA de parentes para o mesmo fim.

O Papa Francisco estava orando por todos os afetados pelo incêndio, disse seu porta-voz.

O vento às vezes era tão forte que soprava para trás a água liberada pelas mangueiras de combate a incêndios, disse um policial.

No dia seguinte, um cheiro acre pairava no ar no local do incêndio, no bairro de El Campanar, em Valência.

Moradores em pânico correram para as varandas para pedir ajuda enquanto brasas caíam no chão durante o incêndio. Pelo menos duas pessoas foram resgatadas de suas varandas por guindastes.

“Eu disse à minha filha e à minha sogra para saírem, outras pessoas ficaram lá dentro”, disse uma moradora chamada Adriana à Reuters.

O edifício, composto por duas torres ligadas pelo que os seus promotores descreveram como um “elevador panorâmico”, foi concluído em 2008, disseram as autoridades. Tinha 138 apartamentos, informou o jornal El Pais.

Valência decretou três dias de luto, cancelou jogos de futebol locais e suspendeu o início do festival anual “Fallas” da cidade, que dura um mês e inclui o incêndio de grandes estátuas de papelão e uma queima de fogos de artifício.