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Delmiro Gouveia,23/04/2024

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Entidades avaliam que juros altos comprometem investimentos, principalmente entre as MPEs

Associações industriais apontam que aperto no crédito deve dificultar desempenho do setor


Entidades avaliam que juros altos comprometem investimentos, principalmente entre as MPEs Imagem: Divulgação/Sergipe Notícis

Em relatório divulgado essa semana, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), órgão do Banco Central, destacou a questão dos juros no país na avaliação do cenário econômico e financeiro.

O Comef apontou que houve desaceleração no ritmo de concessão de crédito tanto para empresas como para o consumidor pessoa física. O dinheiro mais caro, com juros subindo para o cliente, diz o Comitê, apesar de a taxa Selic estar estacionada desde agosto do ano passado em 13,75%, também faz com que as instituições fiquem mais criteriosas para a concessão de crédito.

Para entidades industriais, o aperto no crédito pode impactar diretamente a capacidade produtiva do país, principalmente entre as empresas de menor porte. Na vida prática das empresas, os juros altos indicam a necessidade de se ter mais dinheiro para pagar dívidas, muitas vezes, contraídas num cenário em que a taxa estava perto da mínima, como era em 2021.

Segundo José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a taxa de juros elevada do Brasil “é uma disfuncionalidade de longa data”, que compromete o crescimento e o desenvolvimento econômico e, consequentemente, gera uma desindustrialização.

“O nível das taxas de juros gera um desinvestimento. Não existe atividade econômica que tenha retorno após pagar o custo dos juros”, afirma Velloso.

Além disso, o especialista também ressalta a questão de oportunidade. Quando os juros chegam em patamares como esse, emprestar dinheiro por meio dos títulos públicos para o governo se torna um investimento tão rentável que dificilmente o setor produtivo vale a pena.

A Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), por sua vez, considera quer os juros altos e as dificuldades para obtenção de crédito prejudicam o desempenho da economia, e afetam principalmente as micro e pequenas empresas, com maior dificuldade para acesso a financiamentos.

Segundo levantamento do Serasa Experian, o número de falências de empresas – de todos os setores –  avançou 56,5% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado – de 46 pedidos para 72. O aumento chega a 80% quando consideramos os 40 pedidos de falência registrados em janeiro de 2021.

Algumas medidas, aponta a CACB, poderiam ser adotadas para amenizar as dificuldades das MPEs, como linhas especiais de crédito, com mecanismos de garantias — como o Pronampe, o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

“As altas taxas de juros resultam de fatores como a inflação e as incertezas na área fiscal, exigindo, principalmente, medidas que reestabeleçam a confiança dos agentes econômicos, prometidas pelo ministro Haddad”, afirma a CACB.

Em nota técnica publicada no final de fevereiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também destaca o impacto dos juros altos para as empresas de menor porte. De acordo com o documento, a trajetória de elevação da Selic tem sido um “complicador adicional” para o custo do crédito à micro, pequenas e médias empresas, dado que a Selic baliza as taxas de juros do crédito concedido no mercado a essas empresas.
Questionada pela CNN, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e FecomercioSP responderam que não se posicionariam sobre o assunto.

Na ocasião da divulgação do resultado do PIB brasileiro de 2022, a Federação das Indústrias emitiu comentário em que, entre outros pontos, apontava a diminuição do custo do crédito a partir da redução da taxa básica de juros entre “as ações prioritárias” para lidar com a projeção – feita pela entidade industrial –  de um crescimento econômico de 0,5% em 2023.

Aod Cunha, comentarista de Economia da CNN, avalia que a continuidade do atual patamar da taxa de juros deve gerar uma situação desafiadora no mercado de crédito.

“A permanência de uma taxa elevada, o prolongamento dessa taxa, evidentemente, em algum momento, iria gerar uma situação de restrição de crédito mais aguda. Precisamos reduzir a taxa de juros. Precisa ser feito de maneira correta, para que uma redução mal feita depois não nos leve a uma subida adicional de juros e uma restrição de crédito maior”, explica.

Em relatório enviado aos clientes nesta semana, a consultoria Verde Asset apontou que existem sinais incipientes de uma possível crise de crédito atingindo a economia brasileira e que, por isso, será necessário “boas políticas públicas” para administrar a situação.

Regra fiscal
A CNC, em nota encaminhada à CNN, afirmou que as perspectivas de queda da taxa de juros dependem, principalmente, de uma sinalização concreta do governo — em especial do Ministério da Fazenda — em relação à nova regra fiscal que substitua o teto de gastos, regra que não tem sido cumprida.

Isso porque a taxa de juros, além de uma resposta à inflação, reflete a necessidade de financiamento do déficit publico.

“Quanto mais o governo sinalizar com o controle e redução do déficit público, maior o espaço para a diminuição da taxa de juros e, consequentemente, o crescimento do Brasil”, afirma a confederação.

Ainda, afirma que a reversão do processo inflacionário, combinada com o anúncio da âncora fiscal, pode permitir ao Banco Central uma redução na Selic e ampliação da liquidez.

*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes




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